Arquivo de novembro 30, 2009

A greve

É nosso desastroso hábito observar que as coisas não vão bem e reclamar. Reclamar, discutir em mesas de bar, fazer cara feia pras notícias da TV, e só. E quando as coisas continuam a não ir bem, ou não acham solução, concluímos com um sonoro “viram? Não adianta fazer nada”. Cansada desse processo e curiosa sobre o que faziam aqueles que “não fazem nada”, resolvi participar do processo in loco e lá fui participar das negociações pra reestruturação da carreira de assistência social do Distrito Federal. O processo arrastou-se lenta e invisivelmente às autoridades até culminar numa greve. Greve esta prejudicial apenas àquelas partes mais esquecidas da população. Uma parte que não foi afetada quando paramos o trânsito no Eixo Monumental, na frente do Buritinga, porque a maioria deles só anda de ônibus. A parcela da população que nos via simplesmente não precisa da Assistência Social. Antes, nem sequer sabe o que ela significa. Ficaram então, sem assistência as famílias que recebem pão e leite todos os dias, os adolescentes adictos de crack e suas famílias desesperadas, as crianças e idosos que vivem em abrigos, os adolescentes trancafiados em unidades de internação, as mulheres assistidas por programas de proteção à violência. Enfim, todos aqueles que você não quer saber se existem ou não, porque eles fazem a vida parecer pior do que ela já é.

Cadê o dinheiro do GDF?

Nesse lento processo de mais de uma semana de desassistidos, as negociações se desenrolaram lentas, com a imprensa bradando que nosso aumento pretendido era ilusório. Como pedir 103% de aumento? Ridículo exigir isso de um governo que não deu mais de 30% a nenhuma outra categoria. Alexandre Garcia riu de nós. Mas, esqueceu-se ele de observar que essa porcentagem era devida uma disparidade na qual servidores de nível superior possuíam um vencimento básico de 800 reais, e servidores de nível básico recebiam complementação de salário mínimo, visto que seus vencimentos não chegavam a isso. A “simpática” líder do governo na Câmara legislativa nos recebeu mal a mal, afirmando que não sabíamos negociar. O presidente da Câmara se impacientou com nossa presença, empurrou com a barriga nosso pedido de ajuda pra abrir as negociações, pois até então, num jogo de empurra-empurra, governador e secretário de planejamento afirmaram que não haveria mais nenhuma negociação com a categoria.

Depois de uma reunião estressante com negociadores da pasta de planejamento, que bradavam aos quatro ventos que o GDF não tinha dinheiro, que era impossível o audacioso aumento pretendido, que estávamos sendo gananciosos com o tamanho daquele pedido, ofereceram-nos um valor irrisório, dividido em 03 parcelas, com a única vantagem de equiparar nossos vencimentos aos do administrativo do GDF. Isso seria bom apenas para as próximas brigas com o governo por melhores gratificações.

No mesmo dia em que servidores exauridos por todo esse processo de negociação, desconfiados e insatisfeitos tentam debater sobre a aceitação ou não da “propostinha” do governo, a Polícia Federal inicia uma intervenção contra o governo do distrito federal por corrupção passiva. Menos de 36 horas depois, diversos releases de vídeos mostram deputados, líderes do governo, o presidente da câmara distrital e o próprio Sr. Governador recebendo blocos e mais blocos de dinheiro, escondendo-os nas bolsas, “cestas” e até nas meias. Finalmente descobrimos onde está o dinheiro do GDF.

Pagamos o peru (ou seria o pato?) em pleno Natal

Toda a situação vexatória em que o governo se colocou nesse momento culminará, possivelmente, em mais constrangimento tão somente para o cidadão. Caso haja intervenção federal no DF, as obras que massacram a paciência dos moradores da capital irão parar. O projeto de lei dos servidores da assistência social dificilmente será votado. E tudo acabará novamente em um belo nada. Como disse um leitor do Correio Braziliense “cinco contra um como isso termina em nada”.

Minha lição de tudo é que o processo democrático no Brasil hoje é uma grande mentira. Não posso ser alienada a ponto de não reconhecer que já foi pior, e que muitos avanços ocorreram. No entanto, o verme da corrupção e o jogo político ao qual fui exposta recentemente na capital deste país, me causam náuseas. E, ainda assim, me sinto impelida a participar da caminhada do impeachment do meu querido patrão. (Eu disse impelida, não que iria, isso não vale como prova de processo disciplinar, hein? Rs).

A política não é nem de longe a sujeira que as pessoas pensam que é. O que passa na TV é apenas a parte mais higienizada.